Ícone nos gramados com a camisa do Vasco, Roberto Dinamite ganhou um carinho sem qualquer fronteira de rivalidade ao longo desta segunda-feira. Representantes dos quatro grandes clubes do Rio foram a São Januário para prestar as últimas homenagens no velório do jogador, que morreu vítima de um câncer, aos 68 anos, no último domingo, e será sepultado nesta terça.
Roberto foi velado ao lado de sua estátua, na curva do estádio. Do mormaço que abriu mais um dia de clima instável na capital à chuva no fim de tarde, a torcida não arredou pé de seu templo sagrado, no qual reverenciava seu ídolo sem parar. Entre os que entraram na fila para se despedir no caixão e os que se sentavam nas arquibancadas da Colina histórica, milhares homenagearam o artilheiro pela última vez.
A cada dez minutos, ou à entrada de um convidado ligado ao clube na área cerimonial, gritos como “Ah, é Dinamite”, “Roberto” ou o tradicional “Casaca” eram entoados entre as mais de 100 pessoas que ficaram ali, sentadas, assistindo à cerimônia.
Num momento bonito, torcedores chegaram a saudar Zico, ídolo do Flamengo e amigo pessoal de Dinamite. O Galinho, que já havia divulgado uma sensível mensagem de despedida no domingo, consolou a viúva de Roberto, Liliane, e falou com a imprensa sobre os grandes momentos vividos ao lado do rival e amigo.
— É o respeito que a gente tem pela camisa que vestimos e pela do adversário. Estamos lá para fazer o máximo de gols, mas sem desrespeitar o adversário. O legado dele é de um grande profissional, dirigente, sempre disposto a ajudar as pessoas, muito amigo, muito correto com as coisas. É uma série de fatores que muita gente já se inspirou e as futuras gerações podem se inspirar — comentou Zico.
Além do Galinho, o rubro-negro esteve representado oficialmente pelo gerente Juan e pelo vice-presidente geral e jurídico Rodrigo Dunshee. O ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello e o comentarista Júnior também estiveram na cerimônia. O Fluminense foi outro rival a mostrar muito respeito por Roberto: o presidente Mário Bittencourt, o diretor de futebol Paulo Angioni e o diretor de planejamento Fred foram à cerimônia.
— Roberto era um dos mais completos. A quantidade de gols que ele fez (708). Eu até brinquei, a gente acha foi bom, fizemos 400 e nos achamos bons. Mas o mais legal é o legado dele. Meu pai e irmão falando do absurdo que ele jogava. O Roberto e o Zico eram amigos, não precisavam brigar e arrastavam 150 mil para o Maracanã. Eles têm essa classe. É dolorido e tentamos passar uma mensagem de conforto — disse Fred, ex-atacante e quem mais se aproximou da artilharia histórica de Dinamite no Brasileirão: 158 gols contra os 190 de Roberto.
O Botafogo se fez presente pelo presidente Durcesio Mello, o diretor de futebol André Mazzuco e o técnico Luis Castro. O treinador português comentou a perda:
— Sempre difícil quando referências partem. O Roberto, não só pelo que foi como jogador, mas fundamentalmente como ser humano, deixou um legado a todos. Sabem aquilo que penso. A dimensão humana está acima de tudo e o Roberto foi fantástico.
Campeões do mundo, Mazinho, Brito, Branco, Ricardo Rocha, Jorginho, Zinho, Cafu e Marco Antonio marcaram presença, bem como o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Personalidades como o cantor Paulinho da Viola, a cantora Teresa Cristiana e o streamer Casimiro também passaram por São Januário ao longo do dia. Vascaíno, o prefeito Eduardo Paes se emocionou e confirmou que um trecho da via em frente a São Januário vai se chamar Roberto Dinamite.
Do time de 2011, último campeão nacional com a camisa do clube, foram Prass, o ídolo Felipe, Fellipe Bastos, Ricardo Gomes (técnico) e Rodrigo Caetano (gerente de futebol). Dos ícones cruz-maltinos, estiveram lá nomes como Edmundo, Carlos Germano, Mauro Galvão, Sorato, Pedrinho, Antonio Lopes e Acácio.
O movimento dos vascaínos — e até de torcedores com camisas dos rivais — foi intenso do começo ao fim, às 19h. Nas horas finais do velório, funcionários tentavam acelerar o ritmo da fila para que todos pudessem ter a oportunidade de ver o ídolo. No lado de fora do estádio, a fila saindo da recém-batizada Avenida Roberto Dinamite dobrava a Rua Ricardo Machado e chegava à Francisco Palheta, uma curva quase completa nas arquibancadas.
O momento mais especial, porém, foi nas horas iniciais da cerimônia. O elenco vascaíno entrou no gramado, no primeiro encontro com a torcida em 2023, sob muita vibração. Jogadores e funcionários vestiam camisas com a inscrição “Dinamite, o maior de todos”. Nenê, atual dono da camisa 10 do cruz-maltino, que já foi de Roberto, a estendeu sobre o caixão.
— A honra que eu tenho de representá-lo com essa camisa e representar esse clube é algo que não tem preço — declarou o jogador.
Por O Globo