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Favorito ao comando da Câmara, Motta reúne Tarcísio, Nunes, líderes partidários, ministros e petistas em pizzaria de SP
Nesta terça-feira, deputado estará no Rio com o governador Cláudio Castro e a bancada fluminense
28/01/2025 09h46
Por: Redação
Hugo Motta (Republicanos) recebe o apoio de paulistas na eleição para a presidência da Câmara — Foto: Samuel Lima / O Globo

O provável futuro presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem intensificado os encontros com parlamentares de diferentes vertentes políticas nos dias que antecedem as eleições para a Mesa Diretora da Casa, marcada para sábado. Na noite desta segunda-feira, Motta reuniu para um jantar em São Paulo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), oito caciques partidários e dezenas de deputados paulistas em uma pizzaria do bairro Higienópolis. Nesta terça, ele estará no Rio com o governador Cláudio Castro e a bancada fluminense.

O evento em São Paulo foi marcado por elogios à "capacidade de diálogo" do provável sucessor de Arthur Lira (PP-PI) e algumas cobranças pontuais.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), convidado mais aguardado da noite, chegou atrasado por conta de agendas no Palácio dos Bandeirantes. Elogiou o trabalho de Lira dizendo que o deputado alagoano “correspondeu a uma grande expectativa” e foi “fiador de reformas”, além de garantir “lastro para a economia”. Ao fim, declarou que a eleição de Motta “representa o caminho do diálogo, da construção” e declarou o seu apoio.

— O Brasil espera essa capacidade de diálogo. Esse estado te abraça e conta com você — disse Tarcísio, antes de enumerar assuntos que entende serem necessários ao debate na Câmara dos Deputados, como reforma política, envelhecimento da população, financiamento do Sistema Único de Saúde e da segurança pública e capacidade de investimento dos estados.

Motta e Lira, em contrapartida, fizeram elogios ao chamado "Centrão", grupo de siglas que costumam se aliar aos governos independentemente da orientação ideológica. O deputado paraibano disse que seu compromisso é com uma “agenda positiva em prol do país” e prometeu tomar conselhos com diversos presidentes dos partidos, governadores e prefeitos ao longo do mandato. Ele se comparou ao alagoano como um político que “milita no centro político”.

— Muitas vezes o centro político é criticado, porque transparece que centro é ausência de posição. Não, é ausência de preconceito. Se a ideia é boa, temos coragem de apoiar — afirmou Motta, destacando a presença de representantes do PT e do PL no evento. — A Câmara demonstra maturidade política. Tem algo que tem que estar acima de toda e qualquer disputa ideológica, que é o nosso país. Precisamos tratar de eleição no momento de eleição.

Lira disse que o chamado Centrão atua “pelo equilíbrio em momentos de grande tensionamento” e que, apesar da pouca idade, o seu escolhido tem experiência e se mostrou o candidato certo. Motta venceu a concorrência de Antônio Brito (PSD-BA), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP), deputados que se posicionaram na disputa, mas acabaram abrindo mão das candidaturas em favor de um acordo amplo entre as siglas.

— Ele não está aqui por trabalho meu, mas da junção do trabalho de todos — disse Lira, antes de brincar que não gostaria que o seu recorde de votos fosse quebrado no próximo dia 1º de fevereiro.

Convergência
No cerimonial improvisado e na mesa principal do jantar estiveram presentes os presidentes Marcos Pereira (Republicanos), Valdemar Costa Neto (PL), Baleia Rossi (MDB), Ciro Nogueira (Progressistas), Antônio Rueda (União Brasil), Renata Abreu (Podemos), Gilberto Kassab (PSD) e Paulinho da Força (Solidariedade), além do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e dos ministros Silvio Costa Filho (Portos) e Márcio França (Empreendedorismo).

Márcio França é cotado para disputar o governo de São Paulo ou uma das vagas ao Senado em 2026 e não discursou no evento. O PT, partido do presidente Lula que também está fechado com Motta, foi representado por alguns deputados paulistas. Kiko Celeguim foi o único a falar e causou certo constrangimento em parte da plateia ao agradecer a “firmeza” de Lira ao conduzir os trabalhos depois das eleições de 2022, em nome da “estabilidade institucional”.

O único partido da base do governo que deve se opor a Motta deve ser o PSOL, que tem como candidato o pastor Henrique Vieira, do Rio de Janeiro. O republicano deve enfrentar ainda o deputado gaúcho Marcel Van Hattem (Novo), que tem proximidade com bolsonaristas, mas chances praticamente nulas de ganhar o posto.

Kassab, que chegou a articular em causa própria, disse que apoio do PSD a Motta se deu “por merecimento”.

Já o deputado Baleia Rossi declarou que “Hugo tem DNA do nosso MDB” e apenas por circunstâncias regionais acabou “fisgado” pelo Republicanos:

— É um cara que todos admiramos, sempre buscando consenso e diálogo.

Valdemar Costa Neto, do PL, destacou que nunca houve eleição com tanta convergência como esta:

— Já tivemos uma lavada, mas era reeleição (com Lira). É diferente.

Nunes pediu atenção da nova composição no que diz respeito à agressividade das campanhas políticas, da qual diz ter sido vítima no ano passado.

Pedidos
As cobranças públicas ficaram a cargo de Arnaldo Jardim (Cidadania), coordenador da bancada paulista na Câmara. O deputado fez um apelo para Motta rever os termos da reforma tributária e para derrubar o veto presidencial ao artigo do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) que trazia a possibilidade de os estados usarem verbas do novo Fundo de Desenvolvimento Regional (FNDR) para abatimento dos juros, estimando saldo futuro.

— São Paulo paga o preço da reforma tributária — afirmou Jardim, acrescentando que houve uma série de revisões de alíquotas para setores e locais como a Zona Franca de Manaus. — Respeitamos, mas queremos manter a competitividade da indústria paulista.

O deputado ainda cobrou “respeito ao Legislativo” ao favorito para o comando da Casa nos próximos dois anos, diante de uma sequência de quedas de braço entre o Executivo, o Congresso e até o Judiciário, por conta das decisões recentes do Supremo Tribunal Federal que afetaram a liberação de emendas. Concluiu ainda defendendo que seja pautada uma proposta para criar um fundo destinado às regiões Sul e Sudeste, no modelo do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e para revisão do peso de representação política.

Segundo ele, haveria um “descompasso” na bancada paulista que conta com o máximo previsto de parlamentares na Constituição, 70. O assunto é especialmente sensível para estados como o Rio de Janeiro, que podem perder parlamentares caso esse ajuste populacional seja feito mantendo o total de 513 deputados.

— Garantimos e damos a nossa palavra de ajudar São Paulo, que é a locomotiva do país. Vamos tocar essa agenda e estar à disposição da bancada paulista — respondeu Motta, que prometeu atuar como o 71º deputado da bancada e ser um aliado do governador Tarcísio.


Por O Globo