Das cerca de 11,3 mil armas de fogo apreendidas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre janeiro de 2019 e julho de 2024, mais de 3 mil foram localizadas em estados que compõem a Amazônia Legal. Apesar de ser composta por nove estados, a região é habitada por 29 milhões de habitantes, pouco mais de 13% da população brasileira. A quantidade de armas apreendidas pela PRF nessa região supera as 501 confiscadas em São Paulo, estado que, sozinho, concentra 21% da população nacional.
A Amazônia Legal é formada pelos sete da região Norte, Mato Grosso e Maranhão. Apenas um, Tocantins, não possui fronteiras terrestres com países vizinhos ou portos marítimos, que também são porta de entrada para traficantes de armas. Além do fácil acesso para contrabandistas fronteiriços, a região é epicentro de diversas atividades praticadas por facções criminosas, o que aumenta a demanda por armas ilegais.
Os dados foram colhidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) pela associação Fiquem Sabendo, que na segunda-feira (23) divulgou os números colhidos de uma série de requerimentos à PRF.
Lista de apreensões de armas pela PRF por estado na Amazônia. Foto: Kakau Nogueira
Rondônia foi o estado da Amazônia com a maior quantidade de apreensões de armas de fogo, 614. Dessas, mais de um terço foram localizadas na sua capital, Porto Velho. A cidade é um dos epicentros nacionais do desmatamento ilegal, fazendo parte da lista de municípios prioritários do o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal.
Uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2024 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com diversas entidades da sociedade civil identificou o desmatamento ilegal, atrelado à grilagem de terras públicas, como uma das principais atividades realizadas por facções criminosas como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) na Amazônia.
O segundo estado com maior número de armas de fogo apreendidas foi o Pará, unidade federativa que acumula o maior número de garimpos ilegais: outra atividade patrocinada pelo crime organizado. Foram 544 apreensões pela PRF. Quatro municípios responderam sozinhos por mais de um quarto destas armas: Marabá, Altamira, Ipixuna do Pará e Castanhal, que juntas somaram 156 ocorrências. As duas primeiras são municípios prioritários do PPCDAm.
Em terceiro lugar está Mato Grosso, rota histórica de trânsito para o tráfico internacional de drogas. Suas estradas são conectadas às da Bolívia, terceiro maior produtor de cocaína na América do Sul, e do Paraguai, principal produtor de maconha. A proximidade, somada à baixa densidade populacional, torna o estado uma das principais escolhas para a entrada de contrabandistas no país.
Mato Grosso ainda conta com o maior trecho da BR-364, principal rota de entrada da cocaína no Brasil, conectando a fronteira com o Peru à cidade de São Paulo.
Fora da Amazônia
Em todo o país, o estado que lidera os índices nacionais de apreensão de armas de fogo pela PRF é o Rio Grande do Sul, com 1.094 ocorrências. O Paraná ocupa o segundo lugar, com 952. Assim como o Mato Grosso, esses dois são zonas de fronteira. O Paraná faz fronteira direta com a segunda maior cidade do Paraguai, Ciudad del Este, o que o torna um hub comercial tanto para o comércio regular quanto para o contrabando com o país vizinho.
O terceiro e quarto lugar são estados afastados da fronteira, mas que enfrentam problemas históricos com o crime organizado: Rio de Janeiro, com 945 apreensões, e Bahia, com 824.
O levantamento revela que cidades do Rio de Janeiro e de Rondônia estão no topo do ranking de municípios com mais apreensões de armas entre 2019 e 2024. A análise também mostra que as apreensões de fuzis aumentaram quatro vezes ao longo desses cinco anos e meio.
Nesse período, a PRF retirou 12.898 armas de circulação nas rodovias federais. Dentre elas, 11.370 eram armas de fogo, enquanto as demais incluíam armas brancas, como facas e punhais.
Confira a seguir as estatísticas de apreensão de armas por estado pela PRF, conforme os dados apresentados pela Fiquem Sabendo:
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