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Em reunião de emergência em Paris, líderes europeus dizem que Ucrânia não pode aceitar uma 'paz ditada'

Pressionados por aproximação entre Trump e Putin, países do continente evitam pregar afastamento de Washington, mas parecem coesos sobre o aumento de gastos militares

Por: Redação
17/02/2025 às 22h49
Em reunião de emergência em Paris, líderes europeus dizem que Ucrânia não pode aceitar uma 'paz ditada'
Presidente da França, Emmanuel Macron, após encontro de emergência de líderes europeus em Paris — Foto: Ludovic MARIN / AFP

Na véspera de uma reunião entre representantes dos EUA e da Rússia para discutir a guerra na Ucrânia, líderes europeus se reuniram de forma emergencial em Paris para declarar que qualquer proposta sobre o conflito precisa contar com o aval dos ucranianos. Eles ainda buscaram formas de reiterar seu apoio a Kiev, mesmo com divergências sobre gastos militares e o potencial envio de tropas para uma força de manutenção de paz.

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Sem convite para a reunião marcada entre americanos e russos na Arábia Saudita, os líderes, convocados pelo presidente francês, Emmanuel Macron, afirmaram que não existe a possibilidade de um acordo de paz que não conte com a participação de Kiev, rejeitando, como apontou o chanceler alemão, Olaf Scholz, uma “paz ditada” por Washington e Moscou.

— Nós continuaremos a apoiar a Ucrânia, a Ucrânia pode continuar a confiar em nós — disse Scholz na saída do encontro. — [A Ucrânia] não aceitar tudo o que lhe fosse apresentado sob quaisquer condições.

A proximidade entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, que conversaram por uma hora e meia na semana passada, tem preocupado Kiev e os membros europeus da Otan, a principal aliança militar ocidental. Representantes do governo americano, como o secretário de Defesa, Pete Hegseth, sinalizam que as terras ocupadas pelos russos podem não ser devolvidas, e que a entrada da Ucrânia na aliança não é viável. Os ucranianos também ficaram de fora da reunião em Riad.

Trump disse, no domingo, não acreditar em um conflito entre a Rússia e a Otan no futuro, e seu vice, J.D. Vance, afirmou a uma incrédula plateia na Conferência de Segurança de Munique, na semana passada, que a maior ameaça à Europa não é Moscou, mas sim o "afastamento dos valores democráticos".

A chegada de Trump à Casa Branca não pôs em xeque apenas o futuro da guerra, com Washington questionando os bilionários pacotes de defesa e exigindo uma compensação econômica, citando as riquezas minerais do país. Desde a eleição do republicano, os líderes europeus tratam de forma quase consensual a necessidade de assumirem um maior papel em sua segurança.

— Todos os participantes desta reunião percebem que o relacionamento transatlântico, a Aliança do Atlântico Norte e nossa amizade com os Estados Unidos entraram em uma nova fase. Todos nós vemos isso — disse o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, mas sem pregar uma quebra nas relações com Washington.

Nos últimos anos, a Polônia elevou seus gastos com defesa para 4,7% do PIB, acima da meta estabelecida pela Otan, de 2%, e pressiona para que os países mais ricos, como Alemanha e França, também ajudem a pagar a conta pela segurança coletiva da região. Até líderes de países onde a elevação de despesas militares é impopular, como a Alemanha, não descartam incrementar seu orçamento no futuro próximo.

'Garantias de segurança'
Outro ponto que incitou debates em Paris foi o pedido da Ucrânia de “garantias de segurança” para que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, inicie um diálogo direto com Putin, um pedido que foi feito aos líderes europeus e também a J.D. Vance na semana passada.

Em conversa com jornalistas, o premier britânico, Keir Starmer, afirmou que seu governo pode ajudar a fornecer as condições de segurança, mas cobrou um papel dos EUA nesse processo, sem detalhar como. Na véspera, em artigo no jornal The Daily Telegraph, o premier disse que está disposto, se necessário, a enviar tropas britânicas para integrar uma força de manutenção de paz na Ucrânia, e prometeu discutir o tema com Trump.

— Neste momento, temos que reconhecer a nova era em que estamos, não nos apegarmos desesperadamente aos confortos do passado. É hora de assumirmos a responsabilidade por nossa segurança, por nosso continente — afirmou em entrevista coletiva.

Embora Starmer tenha sugerido enviar tropas como uma demonstração do compromisso com a defesa da Europa, a ideia não tem muitos adeptos. Scholz e o premier espanhol, Pedro Sánchez, consideram cedo para discutir o tema. A premier dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou que há “muitas questões” mais urgentes.

— A Rússia está ameaçando toda a Europa agora, infelizmente — afirmou aos jornalistas, acrescentando que não há sinal de que a Rússia queira paz. —A coisa mais importante aqui e agora é que os ucranianos obtenham mais do que precisam para que não percam esta guerra e para que estejam na melhor posição possível.


Tusk disse, na saída da reunião, que não planeja enviar forças polonesas à Ucrânia, e cobrou compromissos com os países do Leste Europeu.

— A Polônia e os países no flanco oriental estão, de certa forma, na linha de frente, fazendo fronteira com a Rússia, Bielorrússia e a Ucrânia devastada pela guerra. Quando se trata da Polônia, dos Países Bálticos, precisamos de investimentos europeus e aliados em nossa segurança — afirmou o premier polonês após a reunião. — Se a UE (União Europeia) não consegue se defender, então por que deveria dar garantias aos outros? Particularmente porque essas seriam garantias vazias de qualquer maneira.

Em publicação em suas redes sociais, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que os líderes reunidos em Paris reafirmaram "que a Ucrânia merece paz por meio da força", que "a Europa carrega sua parcela total de assistência militar para a Ucrânia", mas que, "ao mesmo tempo, precisamos de um reforço na defesa na Europa".

 

Por O Globo

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