"O disco não existe mais", disse ao G1 Marco Bavini, filho de Sérgio Reis, que produzia um álbum de parcerias do pai com outros artistas. O projeto terminou após vários músicos cancelarem suas participações em reação a falas antidemocráticas de Sérgio, investigado pela Polícia Federal.
De seis cantores que haviam sido anunciados, cinco saíram: Zé Ramalho, Maria Rita, Guilherme Arantes, Guarabyra e Anastácia. As participações estavam gravadas, e os músicos desautorizaram o lançamento. Paula Fernandes foi a única que disse que continuaria no álbum.
Eles saíram em reação à divulgação de um áudio de Sérgio que descreve ações violentas contra a democracia, Ele é investigado pelos crimes 147, 163 e 262 do Código Penal, relativos a ameaça, destruição de coisa alheia e atentado contra a segurança. Saiba mais sobre o inquérito.
Era o filho quem cuidava do projeto do álbum. "A produção do CD, a [escolha do] repertório e a gravação foram minhas e, até então, feitas no meu estúdio. Mas, por conta assunto música ter ficado em segundo plano, eu interrompi tudo", contou ao G1 Bavini, que também é músico.
"Ninguém mais que eu lamenta por isso. Eu vinha gravando e construindo esse projeto há quase cinco anos de gravações. Infelizmente foi assim. O disco não existe mais", disse o filho e produtor de Sérgio Reis.
O G1 perguntou a Bavini quantas músicas já estavam gravadas e se havia outras participações além das seis divulgadas, mas ele não quis falar mais sobre o assunto.
Comunicados dos músicos
Antes do cancelamento do projeto, a previsão era de que o álbum saísse ainda no segundo semestre de 2021.
Veja o que disseram ao G1 Paula Fernandes e os cinco músicos que decidiram sair do projeto após o áudio em que ele falava em invasão ao Supremo e fazia ameaças de violência e de ataques contra a democracia.
"Paula Fernandes, quando iniciou sua carreira, convidou Sérgio Reis para participar de seu álbum 'Canções do Vento Sul' e gravaram juntos a música 'Sem Você'. Em abril deste ano, a cantora foi convidada para participar do novo álbum de Sérgio Reis e colocou voz na canção. Paula tem uma enorme gratidão e respeito pela carreira musical de Sérgio Reis. Paula repudia compromissos firmados e cancelados, como já experimentou uma vez. A decisão é absolutamente artística, como sempre foram suas decisões musicais."
"Anastácia sempre teve admiração e respeito por Sérgio Reis e seu trabalho artístico. Mas também declinou de sua participação no projeto", comunicou sua assessoria.
A assessoria de Guilherme Arantes, que cantaria "Planeta água", enviou ao G1 um comunicado do cantor, que já havia sido publicado no jornal "O Globo": "Para mim, compositor, a gota d'água, sem querer brincar de trocadilho, foi esse colega dizer que não é frouxo, que não é mulher. Para mim, essa expressão bastou. Chega Não quero mais participar, e ponto final."
"'Planeta água' é uma ode ao espírito feminino da natureza, chave da alma brasileira. A água é o elemento-símbolo do Brasil , elemento-chave da natureza feminina do universo. E é no feminino que está a força desse elemento da vida. Assim, e só por conta desse equívoco, ficou incompatível a canção com o intérprete", completa Guilherme Arantes no comunicado enviado pela sua assessoria.
A assessoria de Maria Rita confirmou que a cantora, que participaria da música "Romaria" deixou o projeto do álbum por causa das falas do cantor. Mas ela não quis se pronunciar mais sobre o assunto.
Guarabyra, famoso pela dupla com Sá, que participaria da música "Sobradinho", escreveu: "De Sérgio Reis, sempre tive enorme admiração pelo trabalho, bom gosto, extrema musicalidade. No disco dele que irá sair, inclusive participaria em uma faixa, gravação dele de Sobradinho. Mas me considero incompatível com seu posicionamento atual e infelizmente declino do convite."
Após a alegação inicial, Guarabyra publicou outro texto: “Tenho absoluto respeito pelo posicionamento político de quem quer que seja, e sempre prezei o debate leal e democrático. Tenho, porém, absoluto desprezo por quem despreza o debate leal e democrático e ameaça a democracia com medidas autoritárias – a ponto de divulgar vídeo em que há inclusive menção a derramamento de sangue, se necessário for – independente de quem seja: músico, colega, ou não."
Zé Ramalho anunciou em comunicado que proíbe o cantor Sérgio Reis de usar no álbum a gravação de "Admirável gado novo" em dueto gravado em maio de 2019. “Agora em 2021, a gravação perdeu o sentido e tanto o compositor quanto sua editora não autorizarão a utilização da obra”, informou.
Por G1
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