Nos últimos dois anos, uma série de descobertas de material arqueológico em cidades do interior da Paraíba pode ajudar a reescrever a História do estado. Uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) catalogou resquícios de ocupação de índios tupis em pelo menos 16 localidades do Brejo, Agreste e Sertão paraibanos, regiões historicamente conhecidas por terem sido ocupadas por índios de outra etnia, os tapuias.
Uma das descobertas mais recentes foi registrada no sítio Moconha, em Serra Grande, a 457 km de João Pessoa. Segundo o coordenador da pesquisa, o professor Juvandi Souza, a equipe trabalha há pelo menos dois anos na área, que é tida como um aldeamento e cemitério tupi.
“O que tem chamado a atenção é a grande quantidade de material, a qualidade, inclusive com a presença de ossos humanos, possibilitando a datação com carbono 14 para saber quando os tupis estiveram na região e entender como a Paraíba foi povoada”, explicou Juvandi.
O material descoberto até agora é tratado e guardado no Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB. “É um material que está sendo higienizado, analisado e colado. Tão logo a prefeitura, com a comunidade, crie um espaço para a gente instalar lá um pequeno museu, todo esse material volta para Serra Grande para ser contemplado pela população local. É um material que não pertence a nós, e sim ao povo de Serra Grande”, afirmou.
Os objetos descobertos no sítio Moconha, semelhantes a grandes panelas de barro, revelam a forma como os tupis sepultavam seus mortos – eles aproveitavam os recipientes velhos que eram usados para cozinhar, guardar água ou comida.
“O enterro se dava de duas maneiras: primeiro, ele era colocado no solo. Depois de algum tempo, um ou dois anos, o corpo era exumado, descarnado caso ainda houvesse restos de pele ou cabelos, e os ossos eram depositados nessas urnas e enterrados. Às vezes, quando era um indivíduo grande, os ossos eram até quebrados, para que coubessem”, descreveu Juvandi.
Segundo o pesquisador, os ossos encontrados podem possibilitar uma série de análises que ajudariam a entender os hábitos dos indígenas pré-históricos, como a alimentação.
A possibilidade levantada por Juvandi é de que os tupis do Alto Sertão paraibano teriam vindo da Chapada do Araripe, no Ceará, que também tinha grupos tupis e está próxima geograficamente. Já alguns grupos encontrados em regiões do Brejo e Planalto da Borborema, em cidades como Pilões, Pilõezinhos, Borborema, Bananeiras e Casserengue, teriam vindo do litoral.
“São hipóteses que a gente está levantando porque estas atividades de pesquisa sobre a presença tupi são relativamente recentes”, afirmou.
A migração era uma característica desse grupo indígena, segundo o pesquisador. “Eles migravam ou por conflitos ou pela natureza deles mesmo, por serem horticultores. Os tupis tinham essa característica de deslocarem-se para ocupar novos espaços”, explicou.
Por Júlio Silva
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