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Globo de Ouro para Fernanda Torres mostra que crimes da ditadura não podem ser esquecidos nem anistiados

Ainda Estou Aqui resgata a memória de Eunice Paiva e nos mostra que anistia é a pior solução para os que assassinam e subvertem a democracia, diz Aquiles Lins

Por: Redação
06/01/2025 às 10h16
Globo de Ouro para Fernanda Torres mostra que crimes da ditadura não podem ser esquecidos nem anistiados
Fernanda Torres vence prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro 2025 (Foto: Reprodução)

A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro de melhor atriz pelo filme Ainda Estou Aqui transcende a celebração de um feito histórico para o cinema brasileiro. O prêmio é, acima de tudo, um convite à reflexão sobre a importância de preservar a memória e buscar justiça pelos crimes cometidos durante a Ditadura Militar brasileira.

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Na obra dirigida por Walter Salles, Fernanda interpreta Eunice Paiva, advogada e viúva do deputado federal Rubens Paiva, morto sob tortura em 1971 após ser sequestrado por agentes do regime. A premiação não apenas reconhece o talento de Fernanda Torres, mas também dá visibilidade a uma história que o Brasil ainda luta para enfrentar. Eunice Paiva simboliza a resiliência em meio à dor e a busca incansável por justiça, mesmo diante de um Estado que se recusou a reconhecer seus crimes por décadas. O discurso de Fernanda Torres ao receber o prêmio reflete a força da arte como resistência. A atriz dedicou a premiação à mãe, Fernanda Montenegro, que há 25 anos venceu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro com Central do Brasil, também dirigido por Walter Sales. 

A celebração de Ainda Estou Aqui em uma premiação internacional como o Globo de Ouro é um lembrete de que a cultura pode ser uma ponte para revisitar o passado e iluminar os erros que não podem ser repetidos. Enquanto o país não se comprometer plenamente com a justiça e a reparação, as feridas da Ditadura continuarão abertas.

O reconhecimento internacional do filme, impulsionado pelo talento de Fernanda Torres e pela coragem das histórias que ele conta, é um passo importante para que o Brasil não se esqueça de seu passado e para que a sociedade reforce seu compromisso com os direitos humanos e a democracia.

Importância da memória
A Ditadura Militar brasileira (1964-1985) deixou um rastro de violência que ainda ecoa na sociedade. Apesar das inúmeras evidências de tortura e assassinatos políticos, a Lei da Anistia de 1979 blindou os responsáveis de qualquer julgamento, legando-nos uma ferida aberta que impede o país de avançar plenamente na consolidação de sua democracia.

Nesse contexto, trabalhos como o de Marcelo Rubens Paiva e produções cinematográficas como Ainda Estou Aqui desempenham um papel crucial. Eles dão voz às vítimas e às famílias, preservando memórias que o tempo e a negligência institucional tentam apagar. Mais do que relatos históricos, são lembretes da urgência de um debate nacional sobre a responsabilização de quem violou direitos humanos.

Instituída em 2011 pela presidente Dilma Rousseff, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) documentou graves violações contra os direitos humanos cometidas pelo regime militar, identificando responsáveis e resgatando histórias de centenas de vítimas. Embora seu relatório final tenha sido um marco, os avanços na reparação às famílias e na responsabilização dos agentes da repressão permanecem tímidos. O caso de Rubens Paiva, cujo corpo jamais foi encontrado, expõe as lacunas de um país que ainda convive com os fantasmas do autoritarismo. Sua história só veio à tona oficialmente mais de 40 anos após sua morte, revelando o impacto do silêncio e da impunidade na consolidação da verdade histórica. 

A luta de Eunice Paiva não foi em vão. Hoje, familiares de vítimas de crimes cometidos pela Ditadura Militar já podem ir ao cartório e solicitar a retificação da certidão de óbito para constar que seus entes foram vítimas de “morte não natural, violenta, causada pelo Estado a desaparecido no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964”. Ainda Estou Aqui nos mostra que anistia é a pior solução para os agentes do estado que assassinam e subvertem a democracia. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.


Por Aquiles Lins/Brasil 247

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