Nenê comemora gol do Vasco contra o Coritiba — Foto: Alexandre Durão
Numa disputa imprevisível, em que apenas oito pontos separam o Botafogo, vice-líder, do Náutico, nono colocado, o Vasco tem algo fundamental a seu favor. Se a sexta colocação com 46 pontos, quatro a menos do que o quarto colocado Avaí, não oferece certeza de acesso à primeira divisão de 2022, o cruzmaltino tem exibido rendimento nas últimas sete rodadas, ou seja, desde que Fernando Diniz e Nenê estrearam pelo clube nesta edição da Série B. Neste recorte de competição, o Vasco joga o melhor e mais atraente futebol do torneio.
Mesmo em alguns tropeços neste período, alguns deles amargos como os empates sofridos diante de CRB e Cruzeiro, o time vascaíno jogou melhor, comandou as ações. Nestas últimas sete rodadas, foi quem mais se impôs aos rivais, quem o fez com maior constância. E o crescimento coletivo fez retornar a sensação, construída antes do início desta Série B, de que estava em São Januário o elenco com mais recursos do campeonato. Por um momento, houve razões para duvidar.
Não é possível assegurar que o clube estará na elite na próxima temporada, afinal o futebol não oferece tais garantias e o time corre para descontar um prejuízo construído durante mais de um turno de oscilações. No entanto, se não é possível controlar resultados em futebol, é possível trabalhar para jogar bem. E o nível de jogo apresentado nas últimas sete rodadas indica que o Vasco é fortíssimo candidato a ganhar jogos e brigar pelo acesso. Nos sete jogos com o treinador - e com Nenê -, o aproveitamento é de 67%. Caso tivesse sido mantido durante toda a Série B, o Vasco seria líder. O drama é que faltam apenas oito partidas.
No sábado, enfrentou o mais duro teste possível. E foi absolutamente dominante diante do líder Coritiba no primeiro tempo. O jogo reforçou a impressão de que Fernando Diniz criou alguns padrões. É possível assistir a jogos do Vasco tendo uma boa noção do que se vai encontrar. O primeiro gol, por exemplo, é resultado de uma construção típica do modelo de jogo de Diniz. Ao menos seis jogadores estão concentrados do lado direito do ataque. Gabriel Pec e Morato, em tese os pontas, estão do mesmo lado, movendo-se em função da bola. Em passes curtos, o time evolui até que o lance resulte no gol de Cano. Minutos depois, uma trama quase idêntica terminou em chute de Morato e defesa do goleiro Wilson. Do outro lado do campo, Riquelme oferecia a possibilidade da inversão de bola. O jovem lateral, aliás, voltou a oferecer lances de admirável brilho individual.
Ousadia é outra marca de Diniz e que está presente neste Vasco. A escolha dos titulares tem em Bruno Gomes o único volante de origem. Transformado numa espécie de segundo volante quando o time perde a bola, Marquinhos Gabriel tem chamado atenção pela aplicação e pela capacidade de organização. Foi dele o bonito passe para Gabriel Pec quase marcar.
E mesmo com uma formação mais leve, o Vasco tem competido. Em especial no primeiro tempo dos jogos, graças a uma pressão ofensiva fortíssima. Montado com uma proposta mais cautelosa, com o lateral Matheus Alexandre escalado na ponta direita, o Coritiba não respirou por 45 minutos em São Januário.
O duelo com o líder fez o Vasco passar por outra prova importante: sofreu um gol com 16 segundos na etapa final e, ainda assim, foi capaz de encontrar a vitória, em gol de Nenê, novamente influente no resultado. Mas o segundo tempo mostra que há pontos a ajustar num time que está longe ser um produto acabado.
O Vasco tem dificuldade para manter o ritmo de sua pressão ofensiva na segundo tempo das partidas e, quando obrigado a defender mais perto de sua área, costuma ser menos eficiente. Com Rafinha no lugar de Matheus Alexandre, o Coritiba passou a incomodar mais. Não é justo dizer que foi com sofrimento que os vascaínos mantiveram o resultado. O time ainda incomodou em contragolpes e não cedeu tantas chances claras. Mas é preciso ter menos oscilações dentro das partidas.
Ainda assim, a tarde de sábado deixou a certeza de que, se melhorou seu nível de jogo, o time ainda ganhou o maior dos reforços na reta final: a torcida. São Januário voltou a ser um caldeirão, voltou a pulsar não apenas como forma de incentivo. A sensação é de que o futebol do time transmite confiança.
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